O hábito e prazer de ler, às vezes, nos causam agradáveis e surpreendentes surpresas. Há menos de um mês, li um dos melhores livros de suspense, tendo como protagonista um psicanalista.
Neste mês, me emprestaram este romance espetacular sobre o nascimento da psicanálise. Coincidência ou destino? Não sei precisar, mas garanto que sua leitura prendeu minha atenção e, posso até confessar que me provocou certa inquietação ao longo de sua leitura.
Este é o primeiro romance de Irvin D. Yalom, professor de psiquiatria da Escola de Medicina da Universidade de Stanford, embora seja autor de clássicos compêndios sobre psiquiatria.
Conforme notas do autor, mesmo sendo uma obra de ficção, com exceção de dois personagens insignificantes, todos os demais foram pessoas reais e contemporâneas no período em que ocorre a trama. A situação da vida da maioria dos personagens baseia-se em fatos, bem como os componentes essenciais do romance.
Com estes ingredientes, o autor traça um paralelo ímpar entre ficção e realidade e quem a lê ser vê envolvido numa série de encontros que podem não ter ocorrido na vida real, mas expõe grandes discussões sobre a psicanálise e visões filosóficas.
Josef Breuer, o ponto central da trama, foi realmente um médico de grande conceito na Áustria do século XIX, bem como protetor e amigo do então jovem Sigmund Freud, a quem todos conhecemos.
No ano em que se passa a historia, 1882, Josef Breuer obtém grande projeção após curar uma paciente por meio de seu novo método de tratamento, a “terapia através da conversa”. Porém, ao invés de ser seu melhor momento de vida, ele sofre de contínuas insônias e pesadelos, por conta de medos e fantasias.
Em férias na Itália, Breuer é interpelado por Lou Salomé que lhe “pede” para que trata da depressão suicida de seu amigo Fridrich Nietzsche, filósofo alemão que já tentara sem sucesso tratamento com dezenas de médicos em toda Europa. O orgulho e a natureza do sofrimento de Nietzsche são, contudo, o grande obstáculo a ser transposto.
Após conhecer pessoalmente Nietzsche, Breuer interessou-se de forma até incomum por seus problemas. A relação existente entre eles a partir de então, nas posições de médico e paciente, se confundem e se fundem, pois na filosofia de Nietzsche, Breuer encontra muitas das respostas para suas próprias dores existenciais.
É um livro interessante e muito denso, que nos faz pensar sobre nossos próprios temores existenciais. Uma leitura que merece grande atenção e reflexão, ao longo de suas pouco mais de 400 páginas, principalmente na dualidade relacional entre Breuer e Nietzsche.
"à esquerda: Lou Salomé, Paul Rée e Nietzsche em foto com destaque no enredo do livro" |